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sexta-feira, 11 de junho de 2010

Poeta Marla de Queiroz- acertei o caminho não porque segui as setas, mas porque desrespeitei todas as placas de aviso”.

Não quero mais o beijo molhado, o derretimento castanho dos olhos, o sorriso sacana. Não creio mais em tardes febris ou saudades desesperadas. Tudo é verbo, verso, papo furado. Tudo pode ser rasgado, cuspido, jogado no lixo. Obra prima perdida em rasuras. Poesia sem calor de corpo. Paixão destituída de loucura. Fogo morto. 
Não quero mais o encaixe de tudo, o perfume da pele, a carícia dos dedos. Não creio mais em noites acesas, em madrugadas intensas, em manhãs de luxúria. Tudo é fome e desejo de saciedade. Tudo é espera por novidades. Displicência de afetos, perda de tempo, sexo sem vontade. 
Não quero mais sensações de eternidade, abraços pra sempre, sussurros de amor. Creio em frases desacompanhadas, em palavras cruas, textos sem autor. Tudo é falta de comprometimento, tudo é vácuo, vazio, relento. Tudo é falta de rumo, um peito apertado, tristeza sem dor...


Marla de Queiroz

Charles Mingus a nos sugerir caminhos: abraçados, acariciamos o corpo da noite até acender a fagulha mais intensa do desejo.O peito se ampliado em carícias.E nossa paixão louca, invencilíssima, inundando a cidade de janeiros. Miles Davis desenhando tantas ondas, e na escuridão do quarto espraiando sobre nós praias e luzes, algas e conchas. Em cada acorde borbulham nervuras e vísceras. Frank Zappa a desconstruir o que era óbvio, John Coltrane a soprar segredos. Tua boca crava em meu pescoço a mordida que há implícita em cada beijo. Azymuth embalando butterflys, nenhuma gota se perde da minha vontade de sentir teu gosto.Tantos sons se misturam. E não há gozo maior, meu amor, que fechar meus olhos embevecida pela música e, ainda assim, ver teu rosto. Tudo é dosadamente desmedido. Suspensa no tempo, suspiro teus dedos, teus dentes, delícias de um verso sentido. E eu me calo intensamente pra apreender a tua língua. E acordo renovada e curiosa para descobrir o que (nus) não exploramos...ainda.


Marla de Queiroz

Daquele livro de poemas, meu amor,restou a florzinha esmagada entre as páginas.Só descobri quando mudei o capítulo que falava das janelas abertas, janelas tão escancaradas que a casa amanheceu alagada com a chuva noturna...
Ainda acordo com aquele aperto no peito. Tenho que parar de tomar tanto café, eu sei...
Ninguém prestou atenção em nós...
Vc ainda tem aquela música nos seus arquivos?Eu nunca dancei pra vc...
Posso?
Por que eu escrevo a nossa história em itálico? Porque as letras ficam deitadinhas umas sobre as outras,é mais romântico.
Do sábado eu gosto, falo mal dos domingos.
A saudade? É a florzinha esmagada entre as páginas.
EU? (...) Sou esta reticência entre parênteses.
 MARLA DE QUEIROZ

(Eu tô mexendo nos papéis velhos e nas nossas incompletudes).Escrevi sobre tuas mãos no dia em que o esmalte vermelho descascado parecia gotas de sangue seco em tuas unhas.Você estava triste e, no entanto, sorria: nunca vi tanta amargura revelada num sorriso.(Achei naquelas folhas soltas do caderno abandonado a história áspera de um amor que chegara trazendo angústias; a visão de uma Primavera, toda ela, de flores mortas. Achei o cartão postal, o poema rabiscado em cima da perna num pedaço de guardanapo engordurado).Tuas mãos, tão trêmulas, tantas veias grossas, tuas palmas ásperas, bem me lembro da firmeza com que segurava as coisas, do teu apego, do medo de deixar cair.Você vivia entorpecida passeando pela casa, desarrumando os quartos, esvaziando cinzeiros. Os discos espalhados pela sala.(Uma frase de Drummond naquela foto antiga, a letra ilegível, a frase indecifrável).O sangue seco nas tuas unhas.(Tanta amargura naquela carta.A Primavera de folhas secas e flores mortas).E no entanto, você falava de amor...Tonta,trêmula e ausente segurando as coisas com força, em meio aquele abandono.
No teu sorriso.
Tudo tão frágil.
(E, no entanto).

(...)Os grandes relacionamentos que tive foram os que me renderam as melhores metáforas. Que me despertaram uma vontade constante de ser uma pessoa cada vez melhor e mais inteira. Que me deram colo e não conselho e beijo na boca quando o silêncio ainda era a melhor resposta. Algumas dessas pessoas se foram antes que eu pudesse lhes contar uma história bonita e eu chorei feito menina. Outras ficaram até descobrir que uma caixa de quiwís era o melhor presente que eu poderia ganhar no meio de uma tarde triste...Outras, ainda, me cobraram respostas demais e eu só sabia que nunca aprendi a andar de perna de pau porque tenho medo de altura (o que por um lado pode ser também resposta para várias outras coisas). Mas todas essas pessoas me desenvolveram e isso ficou comigo; são minhas porque faziam parte do meu potencial amoroso e elas vieram só pra me conduzir ao melhoramento do meu amor. Hoje o meu grau de exigência aumentou muito porque aprendi que dar amor não é a mesma coisa que dar carência. Por isso fico sozinha pelo tempo que for necessário para ter novamente essa sensação de "encontro". Abandonei um monte de certezas, recuso sem pudor algumas regras e desrespeito várias vezes as placas de aviso de perigo. Me divirto muito ou sofro, mas tenho cada vez mais faisquinhas nos olhos por viver as coisas em sua totalidade, sem recusar experiências e aproveitando diversas possibilidades. O que posso dizer é que existem na vida pessoas sedutoras e seduzíveis por quem nos apaixonaremos "definitivamente" todos os dias e que amaremos "para sempre"... hoje!
MARLA DE QUEIROZ


Eu nunca fui uma moça bem-comportada. Pudera, nunca tive vocação pra alegria tímida, pra paixão sem orgasmos múltiplos ou pro amor mal-resolvido sem soluços.


Eu quero da vida o que ela tem de cru e de belo e não estou aqui pra que vocês gostem de mim, mas pra aprender a gostar de cada detalhe que tenho e seduzir somente o que me acrescenta.
Tenho uma relação de amor com a poesia e gosto de descascá-la até a fratura exposta da palavra. A palavra é meu inferno e minha paz.
Sou dramática, intensa, transitória e tenho uma alegria em mim que quase me deixa exausta. Eu sei sorrir com os olhos e gargalhar com o corpo todo. Eu sei chorar toda encolhida abraçando as pernas. Por isso, não me venha com meios-termos, com mais ou menos ou qualquer coisa. Venha a mim com corpo, alma, vísceras, tripas e falta de ar....
Eu acredito é em suspiros, mãos massageando o peito ofegante de saudades intermináveis, em alegrias explosivas, em olhares faiscantes, em sorrisos com os olhos, em abraços que trazem pra vida da gente. Acredito em coisas sinceramente compartilhadas. Em gente que fala tocando no outro de alguma forma, no toque mesmo, na voz ou no conteúdo.
Eu acredito em profundidades.
E tenho medo de altura, mas não evito meus abismos:
são eles que me dão a dimensão do que sou.
MARLA DE QUEIROZ


Se eu pudesse me resumir, diria que sou irremediável!Poeta Marla de Queiroz


Eu te desaconselho a me procurar: eu sei onde te encontro antes de me perder por aí.Só não quero deixar pegadas enquanto repenso em qual bifurcação desisti de seguir adiante.Não sei se fiz a coisa certa ao me desvencilhar daquela nossa rotina hiperbólica. Porque preciso de muita paixão, enquanto rezo pela calmaria. É que eu preciso de muitas questões, enquanto fujo para obter respostas...

Não queria escrever um texto, mas um sopro.Desses que tiram o fio de cabelo do teu olho, talvez a única coisa que falte pra deixar sua lágrima evidente.Talvez a única lágrima capaz de desatar esse seu nó na garganta, latente. Até que o choro venha espesso e a alma possa se acalmar no cansaço da dor. E com toda essa emoção sendo despejada, você consiga perceber que não precisa racionalizar nada pra se sentir melhor. Isto é clichê. E que você nem precisa se tornar uma pessoa melhor agora, neste exato momento em que tudo é culpa.Você só precisa conseguir acolher o seu ser assustado. Traze-lo pra sua respiração até que ele se tranqüilize.Você não precisa entender essa angústia. Você não precisa disfarçar tua confusão, nem negar o teu “eu inferior” que tem tanta beleza quanto a parte mais sábia de você. Você só precisa limpar da sua voz esse choro contido: pra que possa pedir ajuda ou desculpas com toda a clareza da força do teu coração.
Este texto, por exemplo, pretendia ser um sopro.


Marla de Queiroz