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sexta-feira, 11 de junho de 2010

(Eu tô mexendo nos papéis velhos e nas nossas incompletudes).Escrevi sobre tuas mãos no dia em que o esmalte vermelho descascado parecia gotas de sangue seco em tuas unhas.Você estava triste e, no entanto, sorria: nunca vi tanta amargura revelada num sorriso.(Achei naquelas folhas soltas do caderno abandonado a história áspera de um amor que chegara trazendo angústias; a visão de uma Primavera, toda ela, de flores mortas. Achei o cartão postal, o poema rabiscado em cima da perna num pedaço de guardanapo engordurado).Tuas mãos, tão trêmulas, tantas veias grossas, tuas palmas ásperas, bem me lembro da firmeza com que segurava as coisas, do teu apego, do medo de deixar cair.Você vivia entorpecida passeando pela casa, desarrumando os quartos, esvaziando cinzeiros. Os discos espalhados pela sala.(Uma frase de Drummond naquela foto antiga, a letra ilegível, a frase indecifrável).O sangue seco nas tuas unhas.(Tanta amargura naquela carta.A Primavera de folhas secas e flores mortas).E no entanto, você falava de amor...Tonta,trêmula e ausente segurando as coisas com força, em meio aquele abandono.
No teu sorriso.
Tudo tão frágil.
(E, no entanto).

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