Seguidores

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Série Rubem Alves -Eu sou muitos! Fotografia Irina Minina


Não foi à toa que Adélia Prado disse que "erótica é a alma". Enganam-se aqueles que pensam que erótico é o corpo. O corpo só é erótico pelos mundos que andam nele. A erótica não caminha segundo as direções da carne. Ela vive nos interstícios das palavras. Não existe amor que resista a um corpo vazio de fantasias. Um corpo vazio de fantasias é um instrumento mudo, do qual não sai melodia alguma. Por isso, Nietzsche disse que só existe uma pergunta a ser feita quando se pretende casar: "continuarei a ter prazer em conversar com esta pessoa daqui a 30 anos?"


Ódio produz casamentos duradouros. O ódio não suporta a idéia de ver o outro voando livre, para longe...


O ódio segura, para que o outro não seja feliz. O ódio gruda mais que amor. Porque o amor deixa o outro voar...
Rubem Alves
Ao final de nossas longas andaças, 
chegamos finalmente ao lugar.
E o vemos então pela primeira vez.

Para isso caminhamos a vida inteira: para chegar ao lugar de onde partimos.E, quando chegamos, é surpresa.È como se nunca o tivéssemos visto.Agora, ao final de nossas andaças, nossos olhos são outros, olhos de velhice, de saudade. 
 Rubem Alves


A paixão é emoção gratuita. Não há causas que a expliquem. Mas, quando acontece, ela age como uma artista: da paixão surgem cenas de beleza.


Os amantes se imaginam andando de mãos dadas por campos floridos; abraçados numa rede; silenciosos, diante do fogo da lareira; contemplando o rosto de um nenezinho adormecido... Paisagens de paixão
Rubem Alves
A alma é uma coleção de belos quadros adornecidos, os seus rostos envolvidos pela sombra. Sua beleza é triste e nostálgica porque, sendo moradores da alma, sonhos, eles não existem do lado de fora. Vez por outra, entretanto, defrontamo-nos com um rosto (ou será apenas uma voz, ou uma maneira de olhar, ou um jeito da mão...) que, sem razões, faz a bela cena acordar. E somos possuídos pela certeza de que este rosto que os olhos contemplam é o mesmo que, no quadro, está escondido pela sombra. O corpo estremece. Está apaixonado.

Acontece, entretanto, que não esxiste coisa alguma que seja do tamanho do nosso amor. A nossa fome de beleza é grande demais.(...)Cedo ou tarde descobrirá que o rosto não é aquele. E a bela cena retornará à sua condição de sonho impossível da alma. E só restará a ela alimentar-se da nostalgia que rosto algum poderá satisfazer...
Rubem Alves
Todo jardim começa com uma história de amor,

antes que qualquer árvore seja plantada 
ou um lago construído 
é preciso que eles tenham nascido dentro da alma.
Quem não planta jardim por dentro, 

não planta jardins por fora e nem passeia por eles.
Rubem Alves

"Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música
não começaria com partituras, notas e pautas.
Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria
sobre os instrumentos que fazem a música.


Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria
que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas.
Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas
para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes".

RUBEM ALVES

“É mais fácil amar o retrato. Eu já disse que o que se ama é a ‘cena’. ‘Cena’ é um quadro belo e comovente que existe na alma antes de qualquer experiência amorosa. A busca amorosa é a busca da pessoa que, se achada, irá completar a cena. Antes de te conhecer eu já te amava....

E então, inesperadamente, nos encontramos com rosto que já conhecíamos antes de o conhecer. E somos então possuídos pela certeza absoluta de haver encontrado o que procurávamos. A cena está completa. Estamos apaixonados”
 Rubem Alves

A celebração de mais um ano de vida 
é a celebração de um desfazer, 
um tempo que deixou de ser, 

não mais existe.
Fósforo que foi riscado.
Nunca mais acenderá.
Daí a profunda sabedoria do ritual 
de soprar as velas em festa de aniversário.
Se uma vela acesa é símbolo de vida, 
uma vez apagada ela se torna símbolo de morte
Rubem Alves



Rubem Alves - A leitura como puro prazer.




“Pelo poder da palavra ela pode agora navegar nas nuvens, visitar as estrelas, entrar, no corpo de animais, fluir com a seiva das plantas, investigar a imaginação da matéria, mergulhar no fundo de rios e de mares, andar por mundos que há muito deixaram de existir, assentar-se dentro de pirâmides e de catedrais góticas, ouvir corais gregorianos, ver os homens trabalhando e amando, ler as canções que escreveram, aprender das loucuras do poder, passear pelos espaços de literatura, da arte, da filosofia, dos números, lugares onde seu corpo nunca poderia ir sozinho... Corpo espelho do universo! Tudo cabe dentro dele!”


Rubem Alves