Seguidores

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

PUBLIQUE UM COMENTÁRIO

As palavras da Katy tem sempre gosto de terra, que se fecunda, que gera... Tem sempre cheiro de mar, onde se mergulha, até se sentir perder o ar... Tem som de batuques e atabaques mas tb do gorjeio dos pássaros, e o gralhar das gaivotas em vôos a planar... Tem jeito de açoite mas tb de afago...é cheia de ambiguidade, tem os pés fincados a terra, tem cheiro de mato, de barro, de seiva das arvores...mas sabias suas palavras tb sabem voar...tem acima de tudo personalidade nordestina e tb brasileira. Sou fã dessa moça... Muito merecida a homenagem. Bjos as duas Erikah

Abro asas às palavras, mas não abro mão da minha criação. A criatividade aqui tem assinatura. Katyuscia Carvalho

Inquérito do Alumbramento

Qual a tua conotação do belo?
O que te suspira, o que te arregala?
O que te enxota para dentro da vida?
O que te exubera, o que te arrebata?
Que tipo de gesto te deixa perplexo?
O que te desenha um abismo na palma
[dos pés] p'ra que tu, animal
– tão inseto –
da terra das mãos
faça o incesto das asa
E que pássaro é tua espécie?
O que nesse mundo te espanta,
te espasma?
De que arrobos suspira o teu corpo?
Onde te inflama a pele?
- Em que ponto, em que polo? -
Em que poro arrepia tua alma?

Katyuscia Carvalho

HIBRIDISMO LINGUÍSTICO

Sou discípula das palavras subversivas
da língua insubmissa pela própria natureza
que não se dobra a doutrinas castradoras
nem cala a boca para as sentenças normativas.

Falo na língua que tem sangue nas veias
- que língua sem sangue ou sem pigmentação
não tem história: é língua-pálida, língua-amorfa!
E eu me pinto em dialetos da minha miscigeNAÇÃO.

Tenho na boca um idioma que dança,
que batuca, que se alegra e que se enfeita
com cocais, com colares, com sotaques
com as sílabas todas desta gente bra-si-lei-ra.

Katyuscia Carvalho

Quando o sol se põe em febre
queima o olhar claro da moça
Ofusca a força
Queda um fardo
E ela entardece na jovem sina

Sagrada a hora do sol-cadente
quando agradece o feno do dia
Veste um olhar – o seu mais solene
Junta as mãos
em ave-maria

Eu que hostilizo as ostentações
fico a saber onde o sol sereniza
É no colo da moça – singelo – da roça
para quem dia é hóstia
e altar horizonte
Katyuscia Carvalho
O que me arde na poesia
é essa forma de ser aura
a tocar em toda pele, em toda cor,
em toda arte, em toda parte,
em toda ânsia, em toda dor.

O que amo na poesia
é a sedutora rebeldia
de não ser de só palavra.
Vive em cio onde a beleza
se desprendeu de seus porões,
incasta, inculta, plebeia.

Salta certeira de tudo
que nos destroça em sensações;
joga-nos ao chão,
a beijar a agonia de uma flor.
Ou levita-nos até a asa
de um condor desesquecido.

Elegância de uma dama,
perfuma a sândalo e suor
se descalça e despenteia
para de clássica ser profana,
desprofética, tribal.

Poesia, a quem tem sede,
é um instinto animal
de querer abrir no mundo
alimento numa veia.

Katyuscia Carvalho

Uma canção lambe a noite caída d’um búzio à letra da tarde
a letra nascida da exaustão

Quando a espera é tanta, embala-nos o cansaço a maré
Na rede, soltam-se os remos…

Há rendidos a trocar sonhos por salva-vidas
Sobreviventes à espera da ressaca nova

Seres que da vida vivem sua volta
qual mulheres de pescadores e suas rendas e lendas

marcando encontro com náufragos
com os que arrastam o hoje tardio até a borda

Marulhos de semprespera, seixos de contartempo
e uma garrafa a aportar para os que encalham no cais

O que espera dos seus a vida?
Secarem os dias? Ou morrerem afogados de alto-amar?
Katyuscia Carvalho

«Uso a palavra como quem a veste; desnuda-se de vestes; traduz-se; simplifica-se. Sempre pelo avesso para sentir o lado de dentro. E sempre sob a pele, para nunca tatear o que não toque um sentimento» [Katyuscia Carvalho]